Eu morri, de fome.
Eu morri...nunca pensei que isto me fosse acontecer a
Eu morri...nunca pensei que isto me fosse acontecer a
mim.
Mas eu, morri.
Fiquei surpreso como ainda me distinguiram e não me confundiram com a planta seca cheia de pó no meu lado, uma das minhas amigas de morte.
Dias antes de morrer, eu já não me conseguia mexer, respirava porque...sei lá, alguém me deve ter dito para o fazer...estava eu lá, deitado, a ver o horizonte da perspectiva que antes os meus pés o viam. Estava envolto no amparo do chão.
Pestanejava meticulosamente...não queria perder energia, mas não iria ser um fracasso, pelo menos sem o tentar não o ser.
Eu degradava-me ainda vivo.
Numa noite dessas da minha corrida sem movimento para a morte, um pássaro veio, sentou-se ao meu lado e adormeceu.
Na manhã do outro dia perguntei-lhe:
- Conheces-me.
Ele respondeu com toda a sua inocência:
- Nunca te vi mais gordo.
No outro dia quando adormeci ainda lá estava, e no outro, e no outro, mas no outro já não sabia se aquele abutre ainda ali se encontrava, mas se estava, estava sozinho.
Não sei se me comeu como todas as carcaças que come, de búfalos, de zebras, de irmãos.
Mas não faz mal se o fez...pelo menos eu ajudei alguém...a não morrer de fome, a não acabar como eu.
Enquanto lá estive, na Terra (literalmente), eu pensei muito (afinal de contas, não deve gastar assim tantas calorias) porquê que eu nasci? Para morrer? Para fazer amigos de morte em vez de fazer amigos de vida?
Mesmo morto, naquele chão de células infelizmente familiares, eu não culpo ninguém pela minha morte, mas tentem não matar mais ninguém.

Fiquei surpreso como ainda me distinguiram e não me confundiram com a planta seca cheia de pó no meu lado, uma das minhas amigas de morte.
Dias antes de morrer, eu já não me conseguia mexer, respirava porque...sei lá, alguém me deve ter dito para o fazer...estava eu lá, deitado, a ver o horizonte da perspectiva que antes os meus pés o viam. Estava envolto no amparo do chão.
Pestanejava meticulosamente...não queria perder energia, mas não iria ser um fracasso, pelo menos sem o tentar não o ser.
Eu degradava-me ainda vivo.
Numa noite dessas da minha corrida sem movimento para a morte, um pássaro veio, sentou-se ao meu lado e adormeceu.
Na manhã do outro dia perguntei-lhe:
- Conheces-me.
Ele respondeu com toda a sua inocência:
- Nunca te vi mais gordo.
No outro dia quando adormeci ainda lá estava, e no outro, e no outro, mas no outro já não sabia se aquele abutre ainda ali se encontrava, mas se estava, estava sozinho.
Não sei se me comeu como todas as carcaças que come, de búfalos, de zebras, de irmãos.
Mas não faz mal se o fez...pelo menos eu ajudei alguém...a não morrer de fome, a não acabar como eu.
Enquanto lá estive, na Terra (literalmente), eu pensei muito (afinal de contas, não deve gastar assim tantas calorias) porquê que eu nasci? Para morrer? Para fazer amigos de morte em vez de fazer amigos de vida?
Mesmo morto, naquele chão de células infelizmente familiares, eu não culpo ninguém pela minha morte, mas tentem não matar mais ninguém.
Wow :)
ResponderEliminarEste devia ser um texto presente em todo o lado, em todas as instituições que combatem a fome destas pessoas. Morrer à fome deve ser mesmo horrível... só sobrar carne e osso é um fim triste. Vê-se mesmo como o mundo é desequilibrado quando se vê que tanta gente passa fome quando há muita comida por aí desperdiçada e que ia encher (literalmente) o dia dessas pessoas.
Mais um Texto com T grande! :)
Muitos beijinhos*
adorei o texto, em especial este. é um assunto um pouco complicado de expressar e tu conseguiste. tens uma capacidade de escrita incrivel, capaz de mover montanhas. Adorei, continua assim:)
ResponderEliminaro texto está excelente!
ResponderEliminaré impossivel comentar sem repetir os comentários que já tens, concordo com tudo o que disseram.
muito sinceramente acho que devias mostrar este texto, tal como a joana disse, a alguém que trabalhe sobre esse assunto para que ele possa ser bem aproveitado :)
beijinho e continua :D